OS ASPECTOS E OS AVANÇOS NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HANSENÍASE

OS ASPECTOS E OS AVANÇOS NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HANSENÍASE

A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae. Essa bactéria afeta principalmente a pele e os nervos periféricos, podendo levar a deformidades e incapacidades permanentes se não tratada. Embora seja uma doença milenar, com relatos desde a antiguidade, os avanços na ciência e na saúde pública têm contribuído significativamente para seu diagnóstico precoce e tratamento eficaz.

A hanseníase apresenta um longo período de incubação, variando de meses a anos. Os sintomas iniciais incluem manchas na pele com alteração de sensibilidade, nódulos e sintomas neurológicos, como formigamento e fraqueza muscular. Em casos mais graves, a doença pode levar a deformidades, principalmente nas extremidades. O Brasil ocupa a 2ª posição do mundo entre os países que registram casos novos, atrás apenas da Índia, com 127.558 novos casos detectados globalmente em 2020. Entre 2016 e 2020, foram diagnosticados no Brasil cerca de 155.300 casos, dos quais 19.900 apresentavam incapacidade física grave.

Historicamente, o diagnóstico da hanseníase era baseado em exame clínico e biópsias. Avanços recentes no diagnóstico e tratamento da hanseníase melhoraram significativamente o manejo dessa doença infecciosa crônica. Diagnósticos moleculares, incluindo métodos baseados em PCR e sistemas de direcionamento de RNA, melhoraram a detecção de Mycobacterium leprae, particularmente em casos paucibacilares. Biópsias de pele, qPCR e estudos de receptores de vitamina D facilitaram o diagnóstico precoce. O sequenciamento do genoma do M. leprae abriu novas possibilidades de pesquisa. Recentemente, o Brasil incorporou novos testes ao Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo testes rápidos imunocromatográficos e exames de biologia molecular, como o GenoType LepraeDR e o NAT Hans. Estes métodos permitem identificar a doença em estágios iniciais, contribuindo para a detecção precoce e a redução de incapacidades associadas.

Pesquisas recentes exploram o potencial da inteligência artificial (IA) para auxiliar no diagnóstico da hanseníase. Técnicas de IA foram aplicadas para analisar imagens de lesões cutâneas e dados clínicos, mostrando-se promissoras na melhoria da precisão e velocidade do diagnóstico. Uma revisão sistemática da literatura revelou que, embora o diagnóstico da hanseníase com suporte de IA esteja evoluindo, a pesquisa ainda está em seus estágios iniciais (Fernandes et al., 2023). Estudos empregaram várias abordagens de aprendizado de máquina, incluindo aprendizado de poucos disparos para pequenos conjuntos de dados (Beesetty et al., 2023) e redes neurais convolucionais combinadas com dados clínicos (Barbieri et al., 2022). Esses modelos de IA demonstraram alta precisão de classificação, com um estudo relatando 90% de precisão e 96,46% de AUC (Barbieri et al., 2022). Pesquisadores também estão desenvolvendo aplicativos móveis para diagnóstico rápido e econômico de hanseníase, o que pode ser particularmente benéfico em países com altas taxas de prevalência como a Índia (Nikam et al., 2023). No entanto, mais pesquisas e validações são necessárias para transformar essas soluções de IA em prática clínica.

O tratamento da hanseníase é eficaz e disponível gratuitamente no SUS. A poliquimioterapia (PQT), recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), utiliza uma combinação de rifampicina, dapsona e clofazimina, administrada por seis a 12 meses. Este regime é essencial para interromper a transmissão da doença e prevenir complicações. No Brasil, a taxa de cura dos casos novos entre 2012 e 2020 foi de aproximadamente 80%.

Apesar dos avanços, a hanseníase ainda enfrenta desafios, como o estigma social, que atrasa a busca por diagnóstico. A capacitação de profissionais de saúde e campanhas de conscientização são essenciais para superar esse obstáculo. Iniciativas de rastreamento de contatos e detecção ativa de casos também desempenham um papel fundamental no controle da doença. O compromisso do Brasil com a eliminação da hanseníase como problema de saúde pública até 2030 é um marco importante no enfrentamento dessa condição.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Hanseníase. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/hanseniase

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Brasil fortalece capacidade de diagnóstico da hanseníase. 2022. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/25-1-2022-brasil-fortalece-capacidade-diagnostico-da-hanseniase

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Leprosy. 2023. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/leprosy

KATOCH, Vishwa M. Advances in the diagnosis and treatment of leprosy. Expert reviews in molecular medicine, v. 4, n. 15, p. 1-14, 2002.

AAMIR, Muhammad et al. Recent advancement in the diagnosis and treatment of leprosy. Current topics in medicinal chemistry, v. 18, n. 18, p. 1550-1558, 2018.

USTIANOWSKI, Andrew P.; LOCKWOOD, Diana NJ. Leprosy: current diagnostic and treatment approaches. Current opinion in infectious diseases, v. 16, n. 5, p. 421-427, 2003.

FERNANDES, Jacks Renan Neves et al. Artificial intelligence on diagnostic aid of leprosy: a systematic literature review. Journal of Clinical Medicine, v. 13, n. 1, p. 180, 2023.

BEESETTY, R. et al. Leprosy skin lesion detection: An AI approach using few shot learning in a small clinical dataset. Indian J Lepr, v. 95, p. 89-102, 2023.

BARBIERI, R. R. et al. Reimagining leprosy elimination with AI analysis of a combination of skin lesion images with demographic and clinical data. Lancet Regional Health – Americas, v. 9, p. 100192, 2022.

NIKAM, Atharva; RANADE, Pranita; GOSWAMI, Tanmoy. Diagnosis of Leprosy through AI-based Mobile Application. In: 2022 OPJU International Technology Conference on Emerging Technologies for Sustainable Development (OTCON). IEEE, 2023. p. 1-6.

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