O PAPEL DA ANTI-ESTREPTOLISINA O NO DIAGNÓSTICO DA FEBRE REUMÁTICA AGUDA

O PAPEL DA ANTI-ESTREPTOLISINA O NO DIAGNÓSTICO DA FEBRE REUMÁTICA AGUDA

A febre reumática aguda (FRA) é uma doença inflamatória sistêmica, de etiologia autoimune, que afeta principalmente as crianças e jovens adultos. Ela é desencadeada por uma infecção estreptocócica não tratada ou inadequadamente tratada, especialmente pela bactéria Streptococcus pyogenes. O diagnóstico precoce da FRA é fundamental para prevenir complicações graves, como a cardite reumática. Nesse contexto, a Antiestreptolisina O (ASO) é um dos marcadores sorológicos mais comumente utilizados para auxiliar no diagnóstico da infecção estreptocócica e na avaliação do risco de desenvolvimento da FRA. 

A FRA afeta várias partes do corpo, incluindo o coração, articulações, pele e sistema nervoso central. Apesar dos avanços na compreensão de sua patogênese e tratamento, a FRA continua sendo um importante problema de saúde pública em muitas partes do mundo, especialmente em países em desenvolvimento.

O diagnóstico da FRA baseia-se em critérios clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. Os critérios de Jones modificados, estabelecidos pela American Heart Association (AHA), são amplamente utilizados para o diagnóstico da FRA. Esses critérios incluem evidências de infecção estreptocócica recente, como a presença de anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), além de sinais clínicos, como febre, poliartrite migratória, cardite, nódulos subcutâneos e coréia de Sydenham. No entanto, esses critérios podem não ser sensíveis o suficiente para detectar todos os casos de FRA, especialmente em áreas onde o acesso aos serviços de saúde é limitado.

A ASO é um anticorpo produzido pelo organismo em resposta à infecção estreptocócica. Sua produção atinge o pico cerca de 3 a 6 semanas após a infecção e pode permanecer elevada por várias semanas. A dosagem da ASO é um dos testes sorológicos mais comumente utilizados para auxiliar no diagnóstico retrospectivo da infecção estreptocócica. Níveis elevados de ASO indicam uma infecção estreptocócica recente, o que pode aumentar o risco de desenvolvimento de FRA. A da ASO no diagnóstico clínico da febre reumática aguda (FRA) é de aproximadamente 73,3%, e sua especificidade é de 57,6%. Valores de ASO acima de 960 UI/ml aumentam a especificidade e o valor preditivo positivo do teste. Além disso, a ASO é útil para monitorar a resposta ao tratamento e a eficácia da profilaxia secundária com penicilina.

Embora a dosagem da ASO não seja específica para a FRA e possa estar elevada em outras condições, como infecções virais e bacterianas, sua determinação desempenha um papel importante na avaliação do risco de FRA em pacientes com suspeita de faringite estreptocócica. Níveis significativamente elevados de ASO, especialmente quando combinados com outros critérios clínicos e laboratoriais, podem fortalecer a suspeita de FRA e orientar o tratamento adequado.

A prevalência da febre reumática aguda (FRA) no Brasil é estimada em torno de 3% entre crianças e adolescentes. No entanto, dados epidemiológicos sistemáticos sobre a doença são incompletos e escassos, evidenciando que a FRA ainda é um problema significativo no país. A doença afeta especialmente crianças e adultos jovens, sendo mais comum em populações geneticamente predispostas e associada a condições socioeconômicas desfavoráveis. O impacto social e econômico da FRA é substancial, pois pode resultar em sequelas cardíacas crônicas, muitas vezes incapacitantes, gerando elevados custos para a sociedade. No Brasil, os gastos com internações por FRA ou cardiopatia reumática crônica são significativos, com o Sistema Único de Saúde (SUS) tendo despendido cerca de R$ 157.578.000,00 em internações relacionadas a essas condições em 2007. Desafios significativos persistem, uma vez que, apesar de iniciativas regionais de prevenção, a falta de um programa nacional contribui para a manutenção das altas taxas de prevalência da FRA no Brasil. Estratégias eficazes de prevenção e tratamento da faringoamigdalite estreptocócica são essenciais para controlar a incidência e impacto da FRA no país.

Em resumo, a dosagem da Antiestreptolisina O desempenha um papel importante no diagnóstico retrospectivo da infecção estreptocócica e na avaliação do risco de desenvolvimento da febre reumática aguda. Embora não seja específica para a FRA, níveis elevados de ASO podem fortalecer a suspeita diagnóstica e orientar o tratamento adequado. No entanto, é importante reconhecer suas limitações e considerar outros critérios clínicos e laboratoriais na avaliação de pacientes com suspeita de FRA. O desenvolvimento de novos biomarcadores e abordagens diagnósticas pode melhorar ainda mais a precisão do diagnóstico e o manejo dessa importante doença reumática.

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