A RELAÇÃO ENTRE VITAMINA D E PARATORMÔNIO: IMPLICAÇÕES PARA O METABOLISMO ÓSSEO
A RELAÇÃO ENTRE VITAMINA D E PARATORMÔNIO: IMPLICAÇÕES PARA O METABOLISMO ÓSSEO
A relação entre a vitamina D e o hormônio da paratireoide (PTH) desempenha um papel crucial no metabolismo ósseo e na homeostase do cálcio e fosfato. A vitamina D e o PTH formam um ciclo de feedback rigorosamente controlado, com o PTH estimulando a síntese de vitamina D e a vitamina D exercendo feedback negativo sobre a secreção de PTH (Imagem 1).
A vitamina D, que pode ser obtida pela exposição à luz solar e através da dieta, é convertida no fígado em 25-hidroxivitamina D [25(OH)D] e, em seguida, nos rins em sua forma ativa, 1,25-dihidroxivitamina D [1,25(OH)₂D]. Esta forma ativa da vitamina D é essencial para a absorção intestinal de cálcio e fosfato, além de regular a mineralização óssea.
Por outro lado, o PTH, que é secretado pelas glândulas paratireoides, é liberado em resposta a níveis baixos de cálcio no sangue. Sua principal função é aumentar a concentração de cálcio plasmático, promovendo a mobilização de cálcio dos ossos, aumentando a reabsorção tubular renal de cálcio e estimulando a conversão de 25(OH)D em 1,25(OH)₂D nos rins. Essa conversão é particularmente relevante, pois a vitamina D ativa não apenas aumenta a absorção intestinal de cálcio, mas também influencia o metabolismo ósseo diretamente.
Imagem 1: Ciclo de Feedback da Vitamina D e Paratormônio (Khundmiri, Murray e Lederer, 2016)
Regulação do Ca2+ sérico pelo PTH. Baixos níveis séricos de Ca2+ estimulam a liberação de PTH da glândula paratireoide. O PTH atua no osso para aumentar a reabsorção óssea, liberando Ca2+ e HPO42− na corrente sanguínea. No rim, o PTH aumenta a reabsorção de Ca2+ e diminui a reabsorção de HPO42−, mantendo o Ca2+ sérico elevado da reabsorção do osso. A vitamina D é ativada no rim pela 1α-hidroxilase, levando ao aumento da absorção de Ca2+ do intestino. O Ca2+ sérico restaurado fornece um sinal de feedback negativo para as glândulas paratireoides, interrompendo a liberação de PTH.
Estudos mostram que a deficiência de vitamina D pode levar a um aumento na secreção de PTH, uma condição conhecida como hiperparatireoidismo secundário e que quase um terço dos pacientes com deficiência de vitamina D (<30 nmol/L) e um sexto daqueles com níveis insuficientes (30-49,9 nmol/L) apresentam hiperparatireoidismo Essa relação é particularmente evidente em pacientes submetidos à cirurgia da tireoide, onde a deficiência de vitamina D se correlaciona significativamente com a elevação intraoperatória do PTH. Essa resposta é um mecanismo compensatório para manter os níveis de cálcio, mas, a longo prazo, pode resultar em perda óssea e aumentar o risco de fraturas. A relação entre a vitamina D e o PTH é, portanto, um ciclo de retroalimentação; níveis adequados de vitamina D são necessários para suprimir a secreção de PTH e, assim, proteger o osso.
Além disso, a vitamina D e o PTH têm implicações na saúde óssea em diferentes fases da vida. Durante a infância e adolescência, a adequação da vitamina D é vital para o desenvolvimento adequado do esqueleto. Em adultos, a presença de níveis adequados de vitamina D e a regulação do PTH são cruciais para a manutenção da densidade mineral óssea. Em idosos, a deficiência de vitamina D é comum e contribui para o aumento do risco de osteoporose e fraturas.
É importante destacar que a avaliação dos níveis de vitamina D e PTH, assim como a compreensão de sua interação, é essencial para o manejo clínico de doenças metabólicas ósseas, como a osteoporose. Intervenções para corrigir a deficiência de vitamina D não apenas melhoram os níveis de cálcio e PTH, mas também têm sido associadas a uma redução do risco de quedas e fraturas em populações vulneráveis.
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