DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA AS HEPATITES VIRAIS (28 DE JULHO): POR QUE A DATA IMPORTA PARA A SAÚDE PÚBLICA BRASILEIRA?
DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA AS HEPATITES VIRAIS (28 DE JULHO): POR QUE A DATA IMPORTA PARA A SAÚDE PÚBLICA BRASILEIRA?
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Instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2010, o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais é celebrado em 28 de julho, aniversário do Nobel Dr. Baruch Blumberg, descobridor do VHB e criador da primeira vacina contra a doença. A edição de 2025 traz o mote “Hepatitis: Let’s Break It Down”, um apelo para derrubar barreiras financeiras e sociais que ainda atrasam o diagnóstico e o tratamento. No Brasil, a data integra o movimento Julho Amarelo, oficializado pela Lei 13.802/2019, que mobiliza serviços de saúde, governos e sociedade civil em campanhas de testagem, vacinação e educação.
Os vírus A, B, C, D e E compartilham a capacidade de causar inflamação hepática, mas diferem em vias de transmissão, prognóstico e disponibilidade de profilaxia. Enquanto as hepatites A e E se propagam sobretudo por via fecal-oral e evoluem, em geral, para cura espontânea, as hepatites B, C e D, transmitidas por sangue, sexualmente ou de mãe para filho, podem cronificar-se e levar a cirrose ou carcinoma hepatocelular.
Estimativas da OMS indicam que 254 milhões de pessoas viviam com hepatite B e 50 milhões com hepatite C em 2022, gerando 1,3 milhão de óbitos anuais, número comparável ao da tuberculose e superior ao da HIV/Aids. Para cumprir a meta de eliminação até 2030, os países precisam reduzir em 90 % a incidência de VHB/VHC e em 65 % a mortalidade.
No Brasil, o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2024 mostra que, entre 2000 e 2023, o país registrou 289.029 casos confirmados de hepatite B e 318.916 de hepatite C. No mesmo recorte, o total de infecções virais somou 785.571 casos, distribuídos em 21,8 % (A), 36,8 % (B), 40,6 % (C), 0,6 % (D) e 0,2 % (E). A região Norte concentra a maior carga de hepatite D, enquanto a Sudeste lidera em hepatite C.
Entre os desafios locais podemos destacar:
- Cobertura vacinal abaixo da meta: em 2023 a vacina contra hepatite B alcançou 77,7 % dos brasileiros, distante do alvo de 90 % definido pela OMS;
- Diagnóstico tardio: estima-se que um terço dos infectados por VHB/VHC desconheça sua condição, favorecendo transmissão silenciosa e complicações;
- Gaps regionais: acesso desigual a testagem rápida, tratamento antiviral e monitoramento de carga viral, sobretudo em áreas remotas da Amazônia legal.
Antes de discutir estratégias específicas, vale reforçar o princípio que norteia a eliminação das hepatites virais: interromper o ciclo de transmissão enquanto se protege o indivíduo infectado contra a progressão da doença. Isso exige uma abordagem sinérgica em três frentes. Quando esses três pilares operam de forma coordenada, o impacto vai além do paciente individual: toda a comunidade se beneficia de menor morbimortalidade, custos assistenciais mais baixos e avanço real rumo às metas de eliminação estabelecidas pela OMS para 2030.
- Imunização: o SUS oferece vacina monovalente (ao nascer) e pentavalente (2-4-6 meses). Adultos não vacinados devem receber três doses;
- Redução de danos: uso de preservativos, material pérfuro-cortante esterilizado, e programas de troca de seringas para usuários de drogas injetáveis;
- Testagem e cuidado: testes rápidos de VHB/VHC disponíveis na atenção básica permitem resultado em 30 min; o tratamento da hepatite C no Brasil é totalmente oral, baseado em antivirais de ação direta (DAAs), com taxa de cura > 95 %.
O Guia Nacional para Eliminação das Hepatites Virais (2025) propõe: ampliar a testagem anual em 1 milhão de brasileiros, elevar a cobertura vacinal ao nascer para ≥ 95 % e escalar o tratamento do VHB para 100 000 pessoas/ano. O sucesso dependerá de financiamento sustentado, integração com programas de HIV-IST e fortalecimento da vigilância laboratorial.
Celebrar 28 de julho vai muito além de iluminar monumentos de amarelo: é lembrar que as hepatites virais permanecem um desafio silencioso, porém evitável e tratável. Vacinar, testar precocemente e garantir terapia são passos decisivos para que o Brasil converta metas globais em vidas preservadas e faça do Julho Amarelo um marco de saúde pública, não apenas de calendário.
Referências:
WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Hepatitis Day 2025 – Let’s Break It Down. Geneva: WHO, 2025. Disponível em: https://www.who.int/news-room/events/detail/2025/07/28/default-calendar/world-hepatitis-day-2025-let-s-break-it-down.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Boletim Epidemiológico – Hepatites Virais: número especial. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia para a eliminação das hepatites virais no Brasil. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2025.
BRASIL. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. “Levando o cuidado para mais perto de você”: 28/7 – Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais. 2022. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/levando-o-cuidado-para-mais-perto-de-voce-28-7-dia-mundial-de-luta-contra-as-hepatites-virais/..
PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA. Profissionais de saúde orientam como se proteger das hepatites virais. João Pessoa, 30 jul. 2024. Disponível em: https://www.joaopessoa.pb.gov.br/noticias/profissionais-de-saude-de-joao-pessoa-orientam-como-se-proteger-das-hepatites-virais/.
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde vai dobrar o número de pacientes com hepatite B em tratamento no Brasil. 17 jul. 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/julho/saude-vai-dobrar-o-numero-de-pacientes-com-hepatite-b-em-tratamento-no-brasil.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global Hepatitis Report 2024: Action for Access in Low- and Middle-Income Countries. Geneva: WHO, 2024.