TIREOIDITE DE HASHIMOTO COMO CAUSA DE HIPOTIREOIDISMO: DIAGNÓSTICO, MONITORAMENTO E ABORDAGEM CLÍNICA

TIREOIDITE DE HASHIMOTO COMO CAUSA DE HIPOTIREOIDISMO: DIAGNÓSTICO, MONITORAMENTO E ABORDAGEM CLÍNICA
TIREOIDITE DE HASHIMOTO COMO CAUSA DE HIPOTIREOIDISMO: DIAGNÓSTICO, MONITORAMENTO E ABORDAGEM CLÍNICA
A tireoidite de Hashimoto, também conhecida como tireoidite linfocítica crônica autoimune, é a causa mais comum de hipotireoidismo adquirido em áreas com adequada ingestão de iodo, afetando predominantemente mulheres entre 30 e 50 anos. Essa condição caracteriza-se por um processo inflamatório crônico da glândula tireoide, mediado por autoanticorpos, principalmente os antitireoperoxidase (anti-TPO) e antitireoglobulina (anti-Tg), que levam à destruição progressiva dos folículos tireoidianos e comprometimento funcional.
O desenvolvimento do hipotireoidismo na tireoidite de Hashimoto é gradual e pode inicialmente apresentar-se como eutireoidismo ou hipotireoidismo subclínico, progredindo ao longo dos anos para hipotireoidismo franco. A identificação precoce da disfunção tireoidiana é essencial, pois sintomas como fadiga, ganho de peso, intolerância ao frio, constipação e depressão são inespecíficos e frequentemente subestimados, especialmente em populações idosas ou com comorbidades psiquiátricas.
O diagnóstico baseia-se na dosagem do hormônio estimulador da tireoide (TSH) e da tiroxina livre (T4 livre), em associação com a detecção dos autoanticorpos anti-TPO, que estão presentes em mais de 90% dos casos de tireoidite de Hashimoto. O TSH elevado com T4 livre reduzido confirma o hipotireoidismo clínico. Em casos iniciais, pode haver apenas elevação do TSH com T4 livre normal, caracterizando o hipotireoidismo subclínico, condição que requer monitoramento regular devido ao risco de progressão.
A abordagem terapêutica consiste na reposição hormonal com levotiroxina, com o objetivo de normalizar os níveis de TSH e aliviar os sintomas clínicos. A dose inicial deve ser individualizada com base na idade, peso corporal, presença de comorbidades cardiovasculares e gravidade do hipotireoidismo. Em adultos jovens e saudáveis, a dose média varia de 1,6 a 1,8 µg/kg/dia. Já em idosos ou pacientes com cardiopatias, recomenda-se iniciar com doses mais baixas (25-50 µg/dia) e ajustes progressivos.
O monitoramento do tratamento deve ser realizado por meio da dosagem do TSH sérico, preferencialmente a cada 6 a 8 semanas após o início ou ajuste da dose, até estabilização. Após atingir o estado eutireoidiano, o acompanhamento pode ser espaçado para intervalos de 6 a 12 meses. A mensuração dos autoanticorpos anti-TPO não é útil no acompanhamento, uma vez que sua presença persiste mesmo após controle clínico e laboratorial da doença.
Importante destacar que a tireoidite de Hashimoto está frequentemente associada a outras doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, doença celíaca, lúpus eritematoso sistêmico e anemia perniciosa, exigindo atenção clínica multidisciplinar. Além disso, a presença de bócio é comum e pode ser observada tanto em fases iniciais quanto em estágios avançados, com atrofia glandular.
A triagem universal de disfunções tireoidianas na população geral ainda é controversa. No entanto, recomenda-se avaliação da função tireoidiana em gestantes, mulheres acima dos 35 anos, pacientes com história familiar de doenças autoimunes e indivíduos com sintomas clínicos sugestivos. Em gestantes, o manejo adequado do hipotireoidismo é crucial, pois a disfunção tireoidiana materna está associada a aumento do risco de aborto, parto prematuro e déficit neurocognitivo fetal.
A Tireoidite de Hashimoto representa, portanto, uma das condições autoimunes mais prevalentes da prática clínica, com importantes implicações no diagnóstico diferencial de queixas inespecíficas e no manejo longitudinal do hipotireoidismo. A identificação precoce, o tratamento adequado e o seguimento contínuo são fundamentais para garantir a qualidade de vida do paciente e prevenir complicações metabólicas e cardiovasculares associadas.
REFERÊNCIAS:
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